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Conheça a história dos 50 anos do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo

A São Paulo dos anos de 1970 ficou marcada pela aceleração do processo de urbanização e de industrialização. A capital paulista, em decorrência do chamado milagre econômico da década, passa por transformações em sua economia, urbanismo, composição social e, consequentemente, na produção cultural. No campo da cultura, preservar a memória e acompanhar as inovações são os desafios impostos. Para superá-los, o então Governador Roberto Costa de Abreu Sodré criou o espaço que completa 50 anos e segue como um para-raios para a modernidade e um abrigo para a história.

Para entender a criação do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, em maio de 1970, é preciso voltar ao ano de 1961, quando Carlos Lacerda, então governador da Guanabara, decidiu criar o MIS no Estado vizinho, que também passava por transformações urbanísticas, econômicas e sociais. O novo espaço foi inaugurado em setembro de 1965, ano de celebração do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro.

Em um cenário de disputas políticas e transformações sociais, Abreu Sodré confia ao jornalista Luiz Ernesto Kawall a missão de criar o Museu da Imagem paulista. Para cumprir a tarefa, ele buscou o auxílio de um grupo de intelectuais ligados ao cinema e ao jornalismo. Dentre os nomes escolhidos estavam o crítico Paulo Emílio Salles Gomes, o produtor cultural Ricardo Cravo Albin e o professor da USP Rudá de Andrade. Na visão do grupo, o novo museu teria como missão preservar todos os registros do intenso processo de modernização do Estado de São Paulo.

Antes de se instalar no atual endereço da Avenida Europa, o MIS percorreu regiões como Campos Elíseos, Avenida Paulista e Itaim | Fotos: MIS

A data escolhida para criação do museu foi 29 maio. No dia seguinte, o ato de fundação foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo. O decreto de número 247, assinado pelo governador e pelo secretário de Cultura, Esporte e Turismo Orlando Gabriel Zancaner, conta com 18 artigos que detalham as funções do novo espaço cultural.  O 2o artigo resume os propósitos do MIS: “coletar, classificar, catalogar, conservar e restaurar material cenográfico e sonoro em geral, especialmente filmes, fotografias, dispositivos, discos, fitas magnéticas e outros, de interesse ou valor artístico, histórico, sociológico ou cultura em geral; realizar e incentivar a realização de pesquisas, palestras, cursos, programas especiais de trabalho, estudos e publicação de monografias sobre comunicação audio-visual ou sem o emprego de técnicas audio-visuais; realizar e divulgar o registro audio-visual de depoimentos, fatos e acontecimentos importantes da vida nacional, principalmente aqueles ligados à arte e história de São Paulo; produzir filmes de caráter educativo para divulgação cultural e auxilio do ensino”.

Por quatro anos, o acervo do MIS passou por imóveis localizados nos Campos Elíseos, Avenida Paulista e Itaim antes de chegar, em 1975, à sede que o abriga até hoje, localizada na avenida Europa. O espaço, que pertencia ao industrial Affonso Giaffone, recebeu as reformas necessárias para abrigar o acervo do museu. A chegada gerou protestos por parte dos moradores da região, à época ocupada somente por residências. Uma imagem totalmente distinta da avenida Europa de hoje.

Em 27 de fevereiro de 1975, com a exposição Memória paulistana, o Museu da Imagem e do Som finalmente abriu suas portas para o público em sua sede permanente em São Paulo | Fotos: MIS

Como é impossível conter a força do desenvolvimento, a sede recebeu, em 27 de fevereiro de 1975, sua primeira exposição, Memória Paulistana.  Organizada por Rudá de Andrade, filho de Oswald de Andrade e de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, a mostra era um resgate histórico-cultural da memória da cidade de São Paulo por meio de fotografias históricas da cidade e retratos de personalidades e anônimos, tendo resultado na edição de um catálogo que, em sua abertura, apresentava o MIS aos paulistas: “adotar as tendências museológicas mais avançadas para conseguir o caráter de museu moderno, e ter como matéria a comunicação de massa, apoiada em recursos de imagens e de sons, para poder ser um museu vivo; constituir importante núcleo sobre comunicação cultural e sobre o meio mais eficaz de difusão artística e educativa que atinja amplas camadas populares através da TV, do cinema, do rádio, de escolas e de outras entidades”.

Nessas cinco décadas de vida, as exposições que passaram pelas salas do MIS mostram que esse propósito foi alcançado. Os números das cinco exposições mais visitadas comprovam esse sucesso. São elas:  Castelo Rá-Tim-Bum (2014): 410 mil pessoas; – O Mundo de Tim Burton (2016): 213 mil pessoas; – Quadrinhos (2018): 156 mil pessoas; – Renato Russo (2017): 102 mil pessoas; – Silvio Santos Vem aí (2016): 101 mil pessoas.

Como escreveu o filósofo e historiador Wilheim Dilthey, “aquele que investiga a história é o mesmo que faz a história”. O MIS de São Paulo segue investigando, construindo e sendo parte da nossa história.