
Pesquisas mostram que inflamações gengivais e infecções orais estão ligadas a doenças cardíacas, diabetes e até Alzheimer. Especialistas alertam para a importância de encarar a saúde bucal como parte essencial da saúde geral.
A saúde da boca vai muito além de um sorriso bonito ou da ausência de dor. Estudos recentes comprovam que problemas bucais, como gengivites, periodontites e infecções, podem afetar diretamente o coração, o controle do diabetes e até contribuir para o avanço de doenças neurológicas, como o Alzheimer.
Segundo a cirurgiã-dentista Salete Meiry Fernandes Bersan, mestra e doutora em Odontologia pela FOP/Unicamp, a cavidade oral deve ser vista como uma porta de entrada tanto para a saúde quanto para a doença. “A boca está conectada a vários sistemas do corpo, e uma infecção ali pode desencadear consequências graves em outras regiões”, explica.
Risco para o coração
A relação entre saúde bucal e doenças cardiovasculares é conhecida, mas ainda subestimada. A periodontite, inflamação crônica que compromete os tecidos de suporte dos dentes, facilita a entrada de bactérias na corrente sanguínea. Esse processo pode gerar inflamações nos vasos sanguíneos, contribuir para a formação de placas de gordura (aterosclerose) e aumentar o risco de infarto e AVC.
Dados do Instituto do Coração (InCor) indicam que infecções bucais podem estar associadas a até 45% dos casos de doenças cardiovasculares. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) acrescenta que pessoas com periodontite têm de 20% a 50% mais chances de desenvolver problemas cardíacos, mesmo após controlar fatores como hipertensão e tabagismo.
Outro perigo é a endocardite bacteriana, infecção no revestimento interno do coração causada por bactérias da boca. Pacientes com próteses, válvulas artificiais ou malformações devem ter atenção redobrada, recomenda a especialista.
Diabetes: uma relação de mão dupla
O vínculo entre diabetes e saúde bucal funciona em duas direções. “Diabéticos são mais propensos a inflamações na gengiva devido à baixa imunidade. Por outro lado, infecções bucais dificultam o controle da glicemia, tornando o diabetes mais difícil de manejar”, explica Salete.
Nesse ciclo, cuidar da boca auxilia na estabilização do quadro metabólico, enquanto manter a glicemia sob controle favorece a saúde gengival.
Alzheimer: novas descobertas
Pesquisas recentes identificaram a presença da bactéria Porphyromonas gingivalis, típica de infecções gengivais, em cérebros de pacientes com Alzheimer. Suas toxinas conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e promover inflamações que aceleram a progressão da doença.
Embora os estudos ainda estejam em andamento, já há indícios de que a inflamação crônica na boca pode representar um fator de risco adicional para o Alzheimer.
Corpo integrado, saúde integrada
Para a especialista, a medicina não pode mais ser fragmentada. “Não podemos tratar os dentes isoladamente do coração, do cérebro ou do metabolismo. A saúde deve ser encarada de forma integrada”, reforça.
Hábitos simples como escovar corretamente os dentes, usar fio dental, manter uma alimentação equilibrada e visitar o dentista regularmente não apenas previnem cáries e mau hálito, mas também protegem todo o organismo.
“A saúde começa pela boca, mas seu impacto vai muito além dela”, conclui.