quinta-feira, outubro 9, 2025
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A saúde começa pela boca: problemas bucais podem desencadear doenças graves

Salete Meiry Fernandes Bersan é cirurgiã-dentista e mestra e doutora em Odontologia pela FOP/Unicamp | Foto: Divulgação

Pesquisas mostram que inflamações gengivais e infecções orais estão ligadas a doenças cardíacas, diabetes e até Alzheimer. Especialistas alertam para a importância de encarar a saúde bucal como parte essencial da saúde geral.

A saúde da boca vai muito além de um sorriso bonito ou da ausência de dor. Estudos recentes comprovam que problemas bucais, como gengivites, periodontites e infecções, podem afetar diretamente o coração, o controle do diabetes e até contribuir para o avanço de doenças neurológicas, como o Alzheimer.

Segundo a cirurgiã-dentista Salete Meiry Fernandes Bersan, mestra e doutora em Odontologia pela FOP/Unicamp, a cavidade oral deve ser vista como uma porta de entrada tanto para a saúde quanto para a doença. “A boca está conectada a vários sistemas do corpo, e uma infecção ali pode desencadear consequências graves em outras regiões”, explica.

Risco para o coração

A relação entre saúde bucal e doenças cardiovasculares é conhecida, mas ainda subestimada. A periodontite, inflamação crônica que compromete os tecidos de suporte dos dentes, facilita a entrada de bactérias na corrente sanguínea. Esse processo pode gerar inflamações nos vasos sanguíneos, contribuir para a formação de placas de gordura (aterosclerose) e aumentar o risco de infarto e AVC.

Dados do Instituto do Coração (InCor) indicam que infecções bucais podem estar associadas a até 45% dos casos de doenças cardiovasculares. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) acrescenta que pessoas com periodontite têm de 20% a 50% mais chances de desenvolver problemas cardíacos, mesmo após controlar fatores como hipertensão e tabagismo.
Outro perigo é a endocardite bacteriana, infecção no revestimento interno do coração causada por bactérias da boca. Pacientes com próteses, válvulas artificiais ou malformações devem ter atenção redobrada, recomenda a especialista.

Diabetes: uma relação de mão dupla

O vínculo entre diabetes e saúde bucal funciona em duas direções. “Diabéticos são mais propensos a inflamações na gengiva devido à baixa imunidade. Por outro lado, infecções bucais dificultam o controle da glicemia, tornando o diabetes mais difícil de manejar”, explica Salete.
Nesse ciclo, cuidar da boca auxilia na estabilização do quadro metabólico, enquanto manter a glicemia sob controle favorece a saúde gengival.

Alzheimer: novas descobertas

Pesquisas recentes identificaram a presença da bactéria Porphyromonas gingivalis, típica de infecções gengivais, em cérebros de pacientes com Alzheimer. Suas toxinas conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e promover inflamações que aceleram a progressão da doença.
Embora os estudos ainda estejam em andamento, já há indícios de que a inflamação crônica na boca pode representar um fator de risco adicional para o Alzheimer.

Corpo integrado, saúde integrada

Para a especialista, a medicina não pode mais ser fragmentada. “Não podemos tratar os dentes isoladamente do coração, do cérebro ou do metabolismo. A saúde deve ser encarada de forma integrada”, reforça.

Hábitos simples como escovar corretamente os dentes, usar fio dental, manter uma alimentação equilibrada e visitar o dentista regularmente não apenas previnem cáries e mau hálito, mas também protegem todo o organismo.

“A saúde começa pela boca, mas seu impacto vai muito além dela”, conclui.