A equipe técnica do Consórcio PCJ compilou os dados meteorológicos de 2017 e os comparou com levantamentos de anos anteriores e constatou que o volume de chuvas nas Bacias PCJ e as vazões dos rios que desembocam no Sistema Cantareira estão bem próximas do cenário verificado no ano de 2013, pré-crise hídrica.
A análise é de atenção, pois, caso as chuvas no início de 2018 não ocorram de forma consistente a chance de enfrentarmos dificuldades com disponibilidade de água durante o próximo ciclo de estiagem é muito grande, já que institutos meteorológicos internacionais atentam para a ocorrência de uma “La Niña” nesse ano, o que acarreta fortes secas na região sudeste.
As precipitações nas Bacias PCJ estão ocorrendo abaixo da média que é de 1.500 milímetros. Em 2012, iniciou uma tendência de chuvas menos volumosas, com 1.460 mm, depois em 2013, 1.110 mm, tendo seu menor índice em 2014, durante o ápice da crise hídrica, com míseros 874 mm. No ano de 2015 iniciou-se uma recuperação, quando choveu 1.283mm, e em 2016, 1.468 mm.
Porém, o ano de 2017 voltou a apresentar chuvas mais escassas nas Bacias PCJ, com volumes na ordem de 1.306 mm, demonstrando novamente uma perspectiva de queda. Os 10 primeiros dias de janeiro de 2018 choveu em média 30% do esperado para o mês.
No levantamento feito pelo Consórcio PCJ, a tendência de queda do volume de chuvas também foi verificada na região das cabeceiras das Bacias PCJ, onde está o Sistema Cantareira. Mesmo tendo chovido acima da média nos dois últimos anos, a região onde estão os reservatórios voltou a apresentar volumes abaixo das médias históricas em 2017, com 1.259 mm quando o esperado é 1.300mm.
A diminuição das chuvas pode ser sentida no volume de água que chega aos reservatórios do Cantareira. Durante o ano de 2017, as vazões de afluência somaram 273,74 m³/s, no total, abaixo dos 310,01 m³/s verificados no ano de 2013, antes da pior crise hídrica da série histórica.
Outro fator que causa atenção por parte dos técnicos do Consórcio PCJ é a possibilidade de ocorrência do fenômeno “La Niña”, em 2018, provoca estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente Sul. Em persistindo este padrão poderá favorecer à ocorrência de chuvas acima da média histórica em parte da Região Norte do Brasil”.
Segundo o coordenador de projetos do Consórcio PCJ e responsável pelo Programa de Monitoramento das Águas, José Cezar Saad, o comportamento das chuvas no início de 2018 vai dizer o que esperar da estiagem que iniciará em abril.
“Os eventos climáticos extremos, que verificamos nos últimos anos, causam muita atenção, especialmente porque os cenários de 2013 estão se repetindo e com tendência de queda nos volumes de chuvas. Também é preocupante o comportamento do consumo de água, que nos últimos dois anos voltou a aumentar depois de ter diminuído e mantido estável por causa da crise hídrica”, disse.
Saad ainda atenta para a necessidade de investimentos em segurança hídrica por meio de obras estruturais. “A ampliação de água reservada, seja ela em estado bruto ou tratado, é crucial para atravessarmos intervalos maiores de secas severas, que tendem a serem mais comuns nos próximos anos”, completou o técnico do Consórcio PCJ.
As recomendações de contingenciamento do Consórcio PCJ para crises hídricas permanecem: a construção de reservatórios municipais, bacias de retenção em áreas rurais e piscinões ecológicos em regiões urbanas, campanhas de sensibilização ambiental sobre consumo racional, busca por fontes alternativas de água, combate às perdas hídricas nos serviços de abastecimento, proteção de nascentes e matas ciliares, além de desassoreamento de reservatórios, são cruciais para atravessarmos momentos de eventos extremos e de estiagens rigorosas.
Fenômeno “La Niña” e
boletim da Somar Meteorologia
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em seu Informe Infoclima de 19/12/2017 alerta: “Os modelos de previsão do ENOS continuam apontando maior chance de configuração do episódio de La Niña no decorrer do próximo trimestre, com duração prevista pelo menos até abril de 2018.
Por outro lado, o Boletim da Somar Meteorologia, elaborado em 15/12/2017, informa que na nova atualização do relatório da Agência Americana de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), manteve a previsão de um fenômeno La Niña durante o verão e início do outono brasileiro.
Essa também é a opinião do meteorologista, professor e pesquisador Luis Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), PhD em Meteorologia e pós-doutor em Hidrologia de Florestas, que atenta com o esfriamento das águas do Pacifico um sistema de alta pressão permanece sobre o Brasil, sendo característico por ar seco que dificulta a formação de nuvens. Além disso, é comum “altas temperaturas durante o dia e tempo mais frio durante a noite”, explica.
O fenômeno “La Niña” consiste no resfriamento da temperatura média das águas do Oceano Pacífico, sendo observado principalmente na porção central e leste, representando exatamente o oposto do fenômeno El Niño, que produz um aquecimento anormal de suas temperaturas.